Juazeiro, cidade situada no norte da Bahia tem 143 anos e o bairro Angari, um dos mais antigos ou mesmo o mais antigo, nasceu com a cidade, mas os registros históricos contabilizam 136 anos de sua existência. Às margens do Rio São Francisco, onde habitam, a comunidade é conhecida pela sua essência. Desde de sua fundação, pescadores que tiram do Velho Chico o seu sustento.
A origem do bairro está associada às lavadeiras de beira rio, as chamadas Angaris, geralmente esposas de pescadores.
A comunidade do Angari cresceu às margens do rio, e com os períodos históricos de seca, as casas foram sendo construídas cada vez mais para dentro do leito originalmente pertencente ao rio. Hoje, centenas de famílias, ainda de pescadores, ocupam essas margens e vivenciam desde os períodos mais severos de estiagem até as maiores cheias.
“Só não vi a cheia de 1972 porque era criança de colo, mas meu pai falava que aqui no bairro Angari, a água tomou tudo. De lá para cá, outras cheias já aconteceram, e por isso meu pai construiu nossa casa mais alta, já prevendo as enchentes”, explicou o pescador Edivan Lima Machado, que mora no bairro há 45 anos.
Assim como a casa de seu Edivan, outras moradias foram construídas. E são essas as casas mais atingidas em períodos de cheia, já que o rio volta a ocupar seu espaço quando o seu nível sobe. Foi o que aconteceu com a casa do seu João Xavier Ferreira na cheia deste ano, quando o reservatório de Sobradinho liberou 4 mil m³/s. A água tomou a casa que levou as pressas o que podia para um abrigo, onde ficou por quase dois meses.
Mas o problema das casas construídas nas margens do rio vai além das inundações. As casas mais altas também são impactadas nos períodos de cheia. “A água vai se infiltrando no terreno e as casas vão cedendo ao longo do tempo”, conta João Paulo dos Santos. Mesmo assim, entendendo que o pescador não sabe viver longe do rio, ninguém está disposto a deixar esse espaço. Eles apontam alternativas para minimizar os impactos das cheias no bairro. “Deviam construir uma barreira de contenção, um calçadão, urbanizar esse espaço, porque ninguém vai sair daqui. Quem que vai perder essa visão maravilhosa do rio para ir morar lá em cima? [diz se referindo a parte mais alta do bairro]”, afirmou o pescador Erivaldo dos Santos Barretos.
TENTATIVAS DE DESOCUPAÇÃO: No fim do século XIX, a ocupação do Angari aumentava de forma irregular com casas construídas de forma aleatória, sem respeitar padrões e urbanismo. Com a proximidade do rio e nenhuma infraestrutura, os esgotos corriam a céu aberto e sem qualquer tipo de tratamento, desaguavam há poucos metros, encontrando o rio São Francisco. Segundo os moradores, os investimentos não chegam para quem vive nesta área do bairro. O serviço de saneamento só foi realizado há pouco mais de um ano.
Algumas tentativas de retirar as famílias desta área já aconteceram na década de 1970 e durante o ano da grande cheia, em 1979, mas encontrando resistência e com o apoio de entidades sociais, o bairro se consolidou. Nos anos 90, um projeto de lei para a criação de casas populares para os moradores do Angari previa nova tentativa de retirada das famílias. Novamente sem sucesso.
Atualmente, a gestão municipal busca soluções viáveis para atender as famílias. De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade (Sedes), Teobaldo Pedro, os moradores do bairro Angari deverão participar de uma conversa com a gestão do município.
“Desde que o Comitê da Bacia do São Francisco nos alertou sobre a cheia deste ano, realizamos um trabalho intenso e preventivo, no sentido de minimizar os danos provocados neste período e isso foi fundamental para evitar problemas muito maiores. Ciente e sensível com as demandas da comunidade do bairro Angari, a ideia é buscar soluções conjuntas que atendam as famílias e possam melhorar aquele espaço”, explicou.
Acompanhando os problemas crônicos das ocupações irregulares do rio, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco lembra que ocupações, como a do bairro Angari exigem esforços conjuntos.
“Na comunidade tradicional do Angari, feita por pescadores do São Francisco, vemos os mesmos erros sociais acontecerem. Com a criação da barragem de Sobradinho na década de 70 deviam ter visto na previsibilidade da sua vazão que com vazões acima de 2.000 m³/s já começa a atingir a comunidade de pescadores. Naquele momento, o Governo Federal, Municipal e a Chesf deveriam ter pensado naquela comunidade, onde passariam as suas residências para a parte oposta, em frente ao Rio e a parte baixa ficaria apenas para tratamento dos seus barcos e atividades de pesca. Como isso não aconteceu, agora que a comunidade cresceu deve-se buscar ações para dar dignidade às famílias, efetuando ações de requalificação do espaço e capacitação dos pescadores”, pontuou o Secretário do CBHSF, Almacks Luiz.
Ascom CHBSF Texto e Fotos Juciana Cavalcante
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