Desde o dia 30 de janeiro a empresa Tombador Iron Mineração suspendeu as atividades no município de Sento Sé (BA) graças a um protesto de comunidades tradicionais que bloquearam a BA-210 para passagem dos caminhões da mineradora. As famílias reivindicam o imediato asfaltamento de cerca de 100km da rodovia estadual.
Moradores e moradoras das onze comunidades na Serra da Bicuda contam que o fluxo intenso de caminhões na estrada não asfaltada tem impactado negativamente em seu cotidiano. Durante as chuvas, a estrada fica intransitável para carros pequenos por conta da lama e, na seca, as nuvens de poeira se espalham pelas casas e plantações, afetando a saúde das pessoas e das lavouras, além do aumento de acidentes envolvendo os caminhões e pequenos veículos, pedestres e ciclistas.
A BA-210 liga as comunidades até o centro urbano da cidade de Sento Sé e vem sendo utilizada pela Tombador Iron Mineração para escoar o minério de ferro extraído nas minas da Serra da Bicuda. O bloqueio na estrada tem impedido a passagem apenas dos veículos da mineradora, os carros de pequeno porte estão transitando normalmente.
Modos de vida
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) tem prestado assistência às comunidades atingidas e defende que o maior impacto de um grande empreendimento como esse na região é a ameaça aos modos de vida tradicionais. A agente da CPT Marina Rocha explica que os moradores do território são principalmente pescadores artesanais, ribeirinhos, agricultores camponeses e comunidades de fundo e fecho de pasto. E afirma que a chegada da mineradora trouxe insegurança para as comunidades que já foram atingidas pela construção da barragem de Sobradinho na década de 1970.
“Chega esse empreendimento, sem nenhum respeito às comunidades. Elas só foram informadas sobre esse projeto quando os técnicos começaram a chegar no município”, conta Marina Rocha. Ela explica que o empreendimento chegou à região prometendo empregos e melhoria de vida, mas, na verdade, tem causado diversos transtornos, dificultando inclusive a locomoção dos moradores até o centro da cidade.
Outro impacto que preocupa a população é a chegada de um grande fluxo de trabalhadores de fora que passaram a circular pela localidade. “Há o impacto porque chega gente de fora nas comunidades, com outros costumes, outros jeitos de viver. As comunidades são tradicionais, o pessoal já conhece todo mundo que mora ali. Agora, de repente, chega um fluxo muito grande de homens para trabalhar na comunidade, com uso de bebidas e outras coisas, muito barulho… Então, tudo isso gera uma grande incerteza nas comunidades”, explica a agente da CPT.
No processo de resistência, as comunidades, inclusive, utilizam esses modos de vida como bandeira de luta. No acampamento de bloquei da estrada, já foram realizadas missas e uma grande roda de São Gonçalo, manifestação da cultura popular local. Marina Rocha lembra que toda a região do Sertão do São Francisco tem sido alvo de diversos grandes empreendimentos que trazem muitos impactos negativos para as comunidades tradicionais. “Se esses empreendimentos, além da mineração, avançarem vamos perder o jeito de vida dessas comunidades, porque a vida vai ser inviabilizada nesses territórios”, finaliza.
Texto: Comissão Pastoral da Terra
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