Após a soltura da primeira leva de ararinhas azuis (cyanopsitta spixii), no último sábado (11) em Curaçá, norte da Bahia, o próximo passo, agora, é preparar devidamente a área repovoada pela espécie. Com esse objetivo, o projeto RE-Habitar irá recuperar 200 hectares de vegetação da Caatinga, sendo 100 hectares vinculados às margens de rios intermitentes ou temporários e 100 hectares em regiões mais secas.
Toda essa área se concentra nas unidades de conservação Refúgio de Vida Silvestre (RVS) e Área de Proteção Ambiental (APA) Ararinha-azul em Curaçá – habitat prioritário das ararinhas.
O projeto RE-Habitar utiliza métodos de recuperação desenvolvidos em outras ações executadas pela equipe do Nema e que já demonstraram êxito. São modelos de semeadura direta, ou seja, sementes são depositadas diretamente no solo, e plantio de mudas em núcleos. As espécies escolhidas para a recuperação das áreas possuem rápido crescimento e ainda são utilizadas pela ararinha-azul como alimento ou para formação de ninhos. São espécies como caraibeira (Tabebuia aurea), baraúna (Schinopsis brasiliensis), aroeira (Astronium urundeuva), pinhão (Jatropha molíssima) e facheiro (Pilosocereus pachycladus).
Conforme o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), neste primeiro ano será ofertada alimentação suplementar e a possibilidade de que as aves ainda utilizem o viveiro de soltura, em um processo chamado de soft release, que consiste em uma liberação suave para que se acostumem gradualmente com o ambiente. Para serem monitoradas, todas receberam anilhas, microchip e rádio transmissores. A previsão é de que em dezembro um novo grupo de ararinhas-azuis seja solto.
O coordenador do Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), professor Renato Garcia Rodrigues, frisa que as ações do projeto já iniciaram para que a recuperação acompanhe o crescimento da população de ararinhas-azuis. Atualmente, está sendo realizado o planejamento da recuperação, negociação com moradores aderentes ao projeto, palestras, além de coleta de sementes e marcação de matrizes. “Esse é um processo longo. Algumas espécies que servem de alimentação para as ararinhas frutificam em cerca de dois ou três anos. Já as espécies que servem para moradia das aves, através de seus ocos, devem demorar décadas até poderem ser utilizadas”, explica.
Integração
Como as principais áreas recuperadas serão em propriedades da população que vive nas áreas das unidades de conservação, as ações estão focadas em conciliar a recuperação do habitat da ararinha, mas também da vegetação e do solo que sustenta a produção econômica local. Dessa forma, também serão utilizadas no reflorestamento espécies de uso das comunidades e desenvolvidas Unidades Demonstrativas de Sistemas Agroflorestais para possibilitar o uso dessas espécies nas atividades econômicas tradicionais.
Para esse projeto, ainda será realizado consórcio de plantios com as tecnologias sociais de prevenção da desertificação nas drenagens naturais da região, como barragens subterrâneas e sucessivas e cordões em contorno. A prioridade é recuperar a capacidade das propriedades rurais conservarem água no subsolo e as margens dos riachos. Assim, é possível aumentar significativamente a disponibilidade de água nas propriedades e utilizar esse fator como um impulsionador da restauração.
Soltura
Pela primeira vez na caatinga, após mais de 20 anos sendo consideradas extintas na natureza, oito aves foram soltas no interior do Refúgio de Vida Silvestre (RVS) Ararinha-azul, em Curaçá, depois de dois anos sendo preparadas em recintos para reintrodução ao seu habitat natural. Esse marco foi possível graças ao esforço de diversas instituições, entre elas o Nema. O projeto RE-Habitar Ararinha-azul, executado pelo Nema em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento (Fade) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é o responsável por recuperar as áreas destinadas para a soltura das aves.
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