O atacante Allef voltou a jogar futebol no fim do mês passado após vencer uma bactéria que o colocou em coma enquanto atuava pelo Atyrau, clube do Cazaquistão. O brasileiro ficou três dias em coma e foi ‘abandonado’ no hospital pelo ex-clube.
O que aconteceu
Allef contraiu salmonela, uma bactéria que causa intoxicação alimentar. Em casos raros, ela pode gerar infecções graves com risco de vida. O atacante foi um desses casos. O brasileiro se recuperava de lesão e ficou sozinho enquanto a delegação da equipe viajou para uma partida. Ele se alimentou no restaurante do clube conforme ordenado e começou a passar mal no mesmo dia. Allef teve febre, vômitos e calafrios por três dias até o retorno do médico do clube. Quando foi avaliado, o profissional disse a diretores da equipe que o jogador andava bebendo e por isso estava naquele estado. O atacante nega.
No dia seguinte, o companheiro de quarto de Allef encontrou-o quase sem pulso na cama e o jogador foi levado ao hospital. No local, foi constatado um caso grave de desidratação, mas antes que exames aprofundados pudessem ser feitos, o jogador entrou em coma. “O médico foi muito negligente. Eu não falava a língua lá, não sabia ir ao hospital. Ele poderia ter pedido para alguém do clube me ajudar. Quando ele chegou, ele disse para as pessoas que eu estava bebendo. Ele me deu um soro e me colocou para dormir. A salvação foi que no dia seguinte o meu companheiro de quarto foi me acordar para almoçar e viu que eu estava sem pulso”.
“Não coloquei o médico na Justiça porque eu precisaria de um advogado do Cazaquistão e lá não é um país que se confia. É um lugar onde o dinheiro fala mais alto. O time me abandonou no hospital. Se não fosse os jogadores se reunirem e juntarem dinheiro para comprar as coisas pra mim… E eu só soube disso depois”.
Foram três dias em coma e a surpresa: o Atyrau se negava a pagar os custos da internação. O clube não informou que Allef era jogador da equipe quando fez a ficha de internação. “Quando acordei do coma, falei para os médicos que eu era jogador do Atyrau e ligaram para o presidente afirmando que eles precisavam vir pagar a conta do hospital. Eles se negaram, disseram que não era responsabilidade do time. Graças a Deus eu tinha esse dinheiro na conta do Cazaquistão, eu paguei e pedi os comprovantes e documentos em inglês para entrar na Justiça. Eu tinha como provar tudo que aconteceu”.
O clube proibiu visitas, imprensa e até policiais no local e ameaçou processar o hospital. Allef já tinha se desentendido com a equipe e afirmado que iria entrar na Justiça. O jogador conta que tinha medo até mesmo de se alimentar no local. “Quando eu estava dormindo, eu via pessoas entrarem e mexerem na geladeira. Eu desconfiava. Isso aconteceu depois que o time se recusou a pagar o hospital e eu falei que colocaria o clube na Justiça. Então, eu não comia a comida do hospital e nem bebia água de lá. Eu tinha amigos que me traziam alimentos lacrados e água e mandavam me entregar”.
“O presidente e o diretor tentaram me intimidar. Falaram que tinham vídeos meus usando drogas, e eu nunca usei nada, não gosto. Eles não pagavam meu salário e achavam que eu não sabia nada de lei. Falaram que eu podia fazer o que eu quisesse porque no Cazaquistão funcionava da forma que eles queriam. Mas a Fifa é igual para todos”. “Na Fifa, eu consegui provar tudo. Foi salmonela, fiquei bastante desidratado por negligência do médico do time e causou choque séptico. Consegui provar que fui abandonado no hospital. Em 15 dias, a Fifa decretou que o clube tinha que pagar tudo ou teria um transferban. No fim, o clube me pediu ajuda ainda…”
O retorno aos gramados
Allef não teve nenhuma sequela. Ele ouviu de médicos do Atyrau que não poderia fazer nem academia por três meses, mas desconfiou e procurou outra opinião, dessa vez sem ligação com o clube. Descobriu que poderia, sim, voltar gradativamente às atividades. Já no Brasil, ele treinou no Juazeirense e no Petrolina antes de ser chamado pelo Volga Ulyanovsk, da segunda divisão da Rússia. Sua estreia ocorreu diante do Zenit no dia 25 do último mês.
“Depois do coma, foram sete meses para voltar a treinar em um time profissional. Quando voltei ao Brasil, fiz todos os exames e comecei a treinar nos times da minha cidade. Abriram as portas pra eu voltar a sentir o futebol novamente, treinar no campo, pois antes era só academia. Então surgiu a oportunidade de vir para o Volga Ulyanovsk para um período de treino para ver se estava apto e deu tudo certo. Depois de tanto tempo parado, minha reestreia foi logo contra o Zenit (risos). Depois de tudo isso, voltei contra o maior time da Rússia. Infelizmente perdemos, o Zenit é o Zenit, mas fiquei muito feliz por voltar a fazer aquilo que amo.”
Uol
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